O que mais chama a atenção nessa reta final do golpe que quer afastar Dilma Rousseff é o espírito de inevitabilidade com que o PT se arrasta há meses no cenário político. Parece que o partido perdeu a garra e é possível pensar que ele próprio tenha sido contaminado pela desarticulação orgânica e política - quem sabe até ideológica - que a interinidade de Temer provocou.
O efeito mais grave dessa anemia e inação política pode ser visto na carta com que a presidente eleita adverte os senadores para a ignomínia que estão prestes a cometer quando se dispõem a chancelar um golpe desfechado claramente com o objetivo de instaurar no país uma era de selvageria do capital contra os direitos sociais. Penso que falta naquele texto muita indignação e um sentido épico do papel histórico que tanto o PT quanto suas figuras mais expressivas, entre elas Lula, deveriam estar dispostos a assumir. Vale a pena, por isso mesmo, ler o texto publicado em Carta Maior (A Carta Testamento de Getúlio Vargas é uma arma contra o golpe atual): a crise de representação que se aprofunda com o vazio político que estamos vivendo tem na construção mítica de seus protagonistas um instrumento de força. Deixar que a crise se resolva na mera racionalidade eleitoral é favorecer o golpe e do jeito que a conjuntura se apresenta, nem sei se não é isso mesmo o que o PT está querendo como espaço de desafogo para que possa se rearticular. Pode pagar caro por isso...
______________________________
______________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário