terça-feira, 22 de novembro de 2016

Populismo: ainda o rescaldo da eleição de Donald Trump

Multidão que acompanhou o corpo de Vargas na praia
do Flamengo, em 1954, mostra que o apelo populista
pelas reformas sociais põe em xeque as estruturas
do Estado
O termo populismo volta à cena acompanhando a aparente surpresa que a eleição de Donald Trump representou. Na imprensa, no entanto, em especial na imprensa brasileira, o populismo sempre foi traduzido vulgarmente para a opinião pública como sinônimo de demagogia, clientelismo, corrupção; não por uma mera coincidência, valores esses que a mídia tradicional associou (e ainda associa) a figuras de forte apelo popular, como é o caso de Getúlio Vargas, João Goulart, Lula... Na verdade, essa simplificação grosseira do conceito mal esconde a natureza profunda do fenômeno: um projeto reformista (de direita ou de inspiração socialista) aglutinador de setores subalternos da sociedade que se sentem à margem do quadro da representação política das elites em situações de crise de hegemonia. Não é obra do acaso o fato de que o populismo tenha se tornado o modelo ou a  forma que o Estado adquiriu em momentos de profunda crise econômica (nos anos 30, por exemplo, e agora) ou nos países periféricos de frágil consistência institucional político-partidária (a América Latina quase inteira).

Temos uma tradição acadêmica de discussões em torno do assunto construída principalmente depois 64, já que o golpe militar mostrou - como definiu Ianni em O colapso do populismo no Brasil (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1994), a inviabilidade de uma prática política que se sustentava na sistemática reprodução de demandas populares cuja implementação - como as reformas de base, por exemplo - só seria possível com a alteração do complexo de forças no poder, ou seja, com o afastamento das tradicionais forças oligárquicas na direção de uma ruptura com a estrutura de representação política e com a estrutura de da distribuição da renda. Embora os atores da cena política da época eventualmente não tenham se dado conta disso (possivelmente, apenas o PCB percebia a gravidade daquela conjuntura), me parece bastante plausível a constatação de que o país viveu então um momento pré-revolucionário, ainda que do ponto de vista subjetivo e orgânico estivéssemos muito longe disso (continue a leitura).
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