sexta-feira, 21 de outubro de 2016

A inteligência sob ataque

Do ponto de vista da inteligência, 
o ambiente é desolador...
Alguém já disse que é sobre a Cultura e sobre as ideias que se voltam os principais arranjos repressivos e de constrangimento dos golpes de inspiração conservadora. Repressão a movimentos sociais, prisões, exílio são os fatos mais evidentes do fascismo, mas a disposição de estabelecer a interdição da reflexão crítica, da disseminação das ideias e o veto dissimulado à formação de um consenso contra-hegemônico revelam uma intermitência silenciosa cujo objetivo é desarticular o pensamento.

Digo isso porque a construção desse novo Estado que estamos assistindo no Brasil - que uma amiga definiu muito bem como uma tríplice articulação institucional que preserva o Direito mas não a sua legitimidade - começa a exibir com discrição sinistra essa vocação totalitária. A coisa começou com a fracassada tentativa de desmontar a área cultural quase no dia seguinte ao início da interinidade de Temer; avançou na direção da Empresa Brasileira de Comunicação; vem se articulando com a crescente desenvoltura das milícias do MBL; passa pela reforma do Ensino Médio por seu conteúdo desintelectualizado. É um cenário aparentemente desorganizado, marcado por ocorrências aleatórias, mas penso que por trás disso há uma lógica característica do desapego que os golpistas têm pela inteligência.

Foi assim na Alemanha Nazista, na Espanha de Franco, no Estado Novo de Vargas, na ditadura instaurada em 64, e está sendo assim agora, como se pode constatar pela notícia de que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) vai passar por uma reformulação que o descaracteriza como um núcleo de estudos independente sobre a realidade social brasileira, fato que desarma o próprio Estado de referências analíticas que devem orientar políticas públicas, uma diretrizes bem coerente com o projeto de mediocrização representado pela ideia de que o público deve estar voltado para o privado e não o contrário (leia aqui).

Leia também: * Uma cultura de eixo estratégico (Valor Econômico) * X, Y e Z, três gerações desiludidas com o futuro do Brasil (IHU).
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